Ásia, Burma, Myanmar

#Compartilhe – E se eu não voltasse? – Um relato sobre Myanmar (Burma)

15 jul 2013
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Hoje na nossa série #Compartilhe, temos a participação da Ana, uma jornalista-mochileira, que tem muitas de suas histórias de viagem contadas no blog O mundo que eu vi e topou compartilhar um de seus momentos aqui aqui com a gente. Vejam que história inspiradora! 

Aproveitem!!
 
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Fiz uma viagem por sete países da Ásia sozinha e uma das opções do roteiro era Myanmar, país também conhecido como Burma. Eu pouco tinha ouvido falar sobre ele quando estava no Brasil, como alguns comentários sobre os maravilhosos templos e sobre a comunicação, escassa e estritamente controlada pelo governo militar.
Chegada em Yangoon

Chegada em Yangoon

O país faz fronteira com a China, Índia e Tailândia e Yangoon, uma das principais cidades encanta pela quantidade de templos dourados. Cheguei num fim de tarde e pude assistir o por do sol de dentro de um ônibus velho, sem porta e todo enferrujado, contratado pelo hotel para buscar dois holandeses e eu no aeroporto.

Mas antes mesmo de partir da Tailândia para Myanmar tive vontade de desistir. Amanheci com uma ponta de arrependimento por ter pago uma van que me levaria de Bangkok para o aeroporto e me arrependi inclusive de ter tomado a decisão de ir lá. Sensação estranha e novidade pra mim, que nunca neguei um convite para viajar.
Os primeiros dias em Yangoon foram maravilhosos. Em um dos locais mais populares conheci dois estudantes universitários que serviram de guia. Me levaram para os outros templos, negociaram transporte, falaram sobre a vida e apresentaram a cultura e a comida local. Eles sabiam muito bem as historias de praticamente toda a região e demos muita risada quando eles pediam as contas nos restaurantes, imitando o som de um beijinho estalado, assim como gritamos “o campeão” para chamar o garçom em alguns lugares do Brasil.
Foi triste partir, mas minha viagem ia ser curta e tinha que ir para os próximos destinos. Bagoo fica a cerca de 80km e foi a segunda parada onde vi um Buda gigante deitado na beira do Rio Bagoo. De lá a ultima cidade seria Bagan, um local com sítios arqueológicos, diversos templos e um por do sol inesquecível visto de cima de um dos templos com o sol se pondo no Monte Popa. 
O ônibus que me levaria de Bagoo ate Bagan demorou muito para chegar e fiquei esperando em frente à barraquinha/lanchonete que servia como “rodoviária”. Como muitos lugares do interior, lá não tem rodoviária e o jeito foi sentar numa lata de óleo daquelas enormes e redondas que servem como banco e esperar ate que finalmente, três horas depois, chegou o ônibus. Eu era a única estrangeira e a atração da vila. No começo da manha eu pararia em outra cidade e dali teria que trocar para um outro ônibus, que viria pela estrada do lado oposto. Como num efeito dominó, o primeiro atrasou e perdi o segundo. 

Minhas companheiras de aventuras

Minhas companheiras de aventuras

Esperei um pouco ate próximo de clarear o dia tomando café com um menino de 12 anos que levava o irmão para passar ferias na casa dos avós enquanto os pais trabalhavam na colheita. Ele fez questão de pagar um café e uma rosquinha de polvilho, super fofo. Quase amanheceu, o movimento de pessoas indo trabalhar começou e fui descobrir que ali também não tinha rodoviária. Eu esperaria no meio da rua pelo único ônibus para Bagan. 

Como cheguei atrasada, não tinha mais transporte, já que dali só sai um ônibus por dia. Negociei, negociei, ate que um homem me disse que tinha um carro de transporte e me levaria. Fui sozinha na carroceria de um carro velho com dois homens, por uma estrada que parecia não ter fim. Nem relógio no pulso eu tinha, e depois que abri a mochila, vi que foram mais de duas horas de agonia. A estrada não terminava, o céu ainda meio escuro, recém amanhecendo e eu na carroceira com aqueles dois homens. Eu só via mato e aquela estrada de terra sem fim. Rezei todas as orações que minha avó havia me ensinado, enquanto meu coração ficava cada vez mais acelerado ao sinal de qualquer diminuída na velocidade do carro.

Acostumada com as historias que ouvimos no Brasil, imaginei que aquilo era um golpe para pegar turista estrangeiro. E eu cai nessa. Foi quando olhei para trás, olhei mais uma vez para aquela estrada de chão interminável e para a portinha da carroceria. Consegui enxergar naqueles ferros a palavra FÉ, digeri a situação e parece que vi uma luz. 

Estradas intermináveis

Estradas intermináveis

Ali comecei a ficar mais calma e a respirar mais tranquila. Logo à frente comecei a avistar alguns casebres e pessoas com cestos andando e montando as barracas no meio da estrada e logo mais, uma escola. Algumas mulheres entraram com as crianças, me olhavam como se eu fosse a pessoa mais estranha da face da terra e eu super simpática, feliz e muito aliviada, sorria. Tinha nascido de novo, tinha vontade de gargalhar. Elas tentavam se comunicar comigo, começaram a mexer no meu cabelo e a me ensinar a usar thanakha, uma pasta feita com cascas de árvore e que serve como protetor solar.
Além de ganhar momentos lindos naquela carroceria, ganhei novamente a vida. Hoje, em qualquer situação de medo, insegurança ou dificuldade lembro daquela cena novamente e de que tudo que a gente precisa, é ter FÉ.
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E esse foi o relato da Ana, legal não é?! 
E você? Também tem um relato de viagem que gostaria de compartilhar? Então envie para a gente pelo comoserrosaprendi@gmail.com!!!

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