Após ter um minicurso de harmonização de cerveja com queijos, ministrado pelo Ronaldo Morado, o único autor brasileiro de um livro da coleção Larousse (óbvio: o dele é o sobre Cerveja!), eu estava certo de que meu destino para as férias no final de 2012 seria um tour pelos lendários mosteiros trapistas.
Apesar de não acreditar que aqueles monges bonachões, rechonchudos e com cara de bonzinhos seriam capazes de produzirem boas cervejas, até por já ter experimentado algumas destas no Brasil, estava disposto a andar bons quilômetros no interior da Bélgica e Holanda só para me certificar de que estava errado.
Desta vez tomei coragem e aluguei um carro na capital Bruxelas e fui guiado pelo meu GPS até os cafundós do Judas para provar as receitas milenares feitas entre uma missa e outra. Eu estava entusiasmado em conhecer os mosteiros da Westmalle na região da Antuérpia e da LaTrappe no interior da Holanda e imaginava ver barris de cerveja empilhados e vários monges bebuns, empanturrados de boa comida sentados embaixo de árvores curtindo a paisagem. E este foi o meu primeiro grande erro.
Este é o mosteiro que produz a cerveja La Trappe.
Aí vai um pouco de história desses mosteiros para vocês entenderem o motivo pelo qual eu me decepcionei um pouco ao chegar e não ver nenhum monge bêbado e barrigudo: A arte da produção cervejeira foi durante anos um dom preservado justamente pela igreja. Com o passar do tempo após a Idade Média, a bebida começou a se popularizar e claro começou a ser comercializada em grandes quantidades e os costumes dentro da igreja foram concentrados em abadias e mosteiros interioranos.
Estas ordens de monges seguiam e seguem até hoje como os trapistas algumas regras além da castidade, como o voto de pobreza, do silêncio e …. do jejum! É isso mesmo que você está imaginando, se eles ficam de jejum o que eles fazem para se alimentar e se manter vivos? BEBEM CERVEJA! Até mesmo porque a cerveja era considerada até 3 séculos atrás um alimento e não uma bebida alcoólica.
Ahhh! Isso sim é cerveja!
O segundo erro foi justamente achar que encontraria algum monge! Apesar de eles terem seus afazeres na igreja além de rezar e fazer cerveja, poucos são vistos nas lojinhas e restaurantes da marca da cerveja que produzem. Isso porque eles fazem voto de silêncio e quase nunca saem das áreas isoladas do mosteiro. Mas podem ter certeza que vocês jamais se arrependerão de irem a um destes locais seculares. As paisagens são magníficas e como em toda igreja o silêncio deve ser contemplado ao degustar uma boa cerveja trapista em sua origem.
O meu terceiro e último erro foi desdenhar da qualidade da cerveja trapista. Para nós brasileiros acostumados a beber água de cevada (cerveja pilsen feita pelas grandes indústrias daqui), quando vamos para a Europa achamos a cerveja quente, forte e muito amarga. Esta cultura de beber para se refrescar, nos deixou mal acostumados e com um péssimo hábito de achar que não tem cerveja melhor que a nossa. Ledo engano.
Gostaria de finalizar este post de introdução dizendo que me vi obrigado em compartilhar esta experiência já que na semana que vem partiremos para mais uma aventura, e temos como objetivo conhecer todos os outros mosteiros trapistas da Bélgica. Quando retornar enviarei um post dedicado a cada mosteiro que visitamos, com imagens e informações sobre estes lendários redutos da cerveja!!! Cheers!!!
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